domingo, 8 de agosto de 2010

Questionário sobre a nossa aula "livre" de Estrutura e Dinâmica Social

A primeira pergunta que fiz foi:

Você encontrou no filme alguma coisa apresentada em sala?O quê? E em que parte?
  1. Sim, o personagem principal tenta se desligar daquilo que ele julga como mesquinho como dinheiro e status, constrói valores diferentes e um novo modo de vida (Larissa Criscuolo)
  2. Sim, a vontade de mudar, de fugir das convenções; o filme todo (Arnaldo Aguiar Jr.)
  3. Sim, pois ele quer se desligar do materialismo, do cotidiano, estar longe das pessoas, em comunhão com a natureza (Letícia Feijó)
  4. Sim, a saída das estruturas pré-definidas, buscando um novo caminho (Valfredo José Pires)
  5. Sim, pois ele vai descobrindo a própria identidade e o seu papel no mundo ( Sara Soares)
  6. Sim, quando o personagem se depara com uma situação de idealização em que seus pais e amigos vivem, onde este tenta fugir dessa "máscara" que todos usam dentro da sociedade (Giovana Marin)
  7. Sim, a vontade de buscar o seu "eu" junto da natureza (Raíssa Lopes)
  8. Sim, o garoto do filme busca o que é "verdade" para ele (Katusca Dell'Antonia)
  9. Sim, romper com o estruturalismo (Lucas Daniel de Macedo e Silva)
  10. Sim, oposição ao estruturalismo; visão da verdade como algo plural, cada um tem a sua. (Rachel Martinuzzo)
 Como avalia a organização da sala?
3 pessoas consideraram ÓTIMA
3 pessoas consideraram MUITO BOA
4 pessoas consideraram BOA

Se tivermos uma nova oportunidade de aula como essa, o que gostaria que fosse feito?

Os alunos sugeriram prática de algum esporte, filme, teatro, música, visitas culturais, documentários, debates, discussão sobre algum tema atual, etc.


Críticas?

Metade das pessoas não tinham críticas, as que tinham reclamaram da pontualidade, da escolha do filme que não foi democrática, foi mal organizada e reclamaram que podiam ter escolhido um filme mais curto.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O Lazer Na Periferia - Os Equipamentos de Lazer nos Bairros de Baixa Renda

A falta de lazer é um dos grandes problemas encontrados na periferia. Nos bairros de baixa renda, os jovens reclamam da falta de praças esportivas e até mesmo de não haver asfalto nas ruas. Se querem buscar lazer, sem virar reféns da televisão, são obrigados a se deslocar para outros bairros. No entanto, até isso é difícil, pois o trajeto de ônibus que vai da localidade até outro bairro, pode consumir até uma hora de viagem. Jogar vôlei na rua seria uma alternativa, se não fossem os carros que constantemente passam nas ruas, levantando muita poeira e impedindo a prática do esporte no lugar.

Da mesma forma, temos que lembrar que as praças, os parques e os espaços públicos de lazer mais belos e cuidados estão nos bairros mais nobres da cidade, estes espaços quase nunca são utilizados pela classe média, que tem como uso para lazer shoppings, bares, boates, de tal maneira que os freqüentadores desses espaços públicos são empregadas domésticas, babás e porteiros que trabalham em residências nestes locais.

Enquanto isso, os raros espaços e equipamentos destinados ao lazer nos bairros de baixa renda se encontram em péssimo estado de conservação, devido aos atos de vandalismo praticados pelos próprios moradores do bairro, a esse respeito entramos na questão da formação que o indivíduo recebe para praticar tamanha agressividade contra um bem de seu próprio uso, contudo essa é uma questão bastante complexa a qual não abordaremos nesse artigo, mas também é importante citar a falta de manutenção dada por

parte da prefeitura a esses equipamentos, pois sua obrigação com o cidadão não consiste apenas em fornecer ou viabilizar um espaço de lazer, mas também mantê-lo para que haja continuidade do seu uso.
 
Por:
Iolanda Barros
Professora Orientadora Maria Raquel Mattedi

O Lazer Na Periferia - O Lazer Contra a Violência

A falta de opção de lazer nas periferias é um grande canal para o crescimento da violência, os jovens constantemente ociosos, canalizam sua energia e direcionam suas idéias para atos criminosos de maior ou menor grau, o processo de violência é quase sempre desenvolvido entre os jovens que vivem em bairros de baixa renda.

Obviamente que esse processo não trás problemas somente para os cidadãos das camadas populares, por certo os mais expostos e atingidos por terem menos possibilidades de contrapor e minimizar seus efeitos perversos. Em função desse afastamento de cidadão e cidade, alguns problemas são bastante visíveis para todos, como o vandalismo, quando se encontra alguma praça ou parques em bairros de baixa renda, em geral estão destruídos pela ação dos próprios moradores da comunidade. A violência, que não pode ser reconhecida somente enquanto conseqüências da ordem econômica, mas também como fruto da transformação de valores.

Desconsiderados pela cidade e fragmentados, de alguma forma segregados na periferia, os indivíduos reagem de diferentes maneiras e vemos acentuar-se o desgaste moral, o desgaste dos valores comunitários, a individualização que leva ao rompimento com os vínculos da sociedade e desligados dos contratos do estado social, os indivíduos sentem-se apenas usuários da cidade, sem estarem comprometidos com os problemas urbanos em geral.

Isso não significa que as camadas populares não tenham alternativas de organização no âmbito do lazer, a criatividade das pessoas em inventarem artifícios como jogos organizados e campeonatos demonstram que existem tais iniciativas e muitos indivíduos preocupados e envolvidos com projetos dessa natureza. Contudo, em função do quadro social, tais iniciativas encontram muitas dificuldades, inclusive de continuidade e de organização.

O jovem entretido não dispõe de tempo para o crime, a escola ocupa parte do seu tempo durante a semana tentando torná-lo cidadão e ensinando os valores e princípios que a sociedade estabelece, porém a ociosidade do jovem nos seus momentos de lazer, e nos fins de semana desfaz todo o processo engajado pela escola, e a cada segunda-feira é um novo começo no trabalho dos educadores de sociabilizar esses jovens.

O incentivo da escola ao esporte, promovendo competições é também uma estratégia eficaz contra a violência, as atividades extraclasse ocupam o jovem em seu tempo livre ao mesmo tempo em que lhe proporciona lazer.

Isso nos leva a concluir que o ócio sem atividade é um poderoso gerador da violência.
 
Por:
Iolanda Barros
Professora Orientadora Maria Raquel Mattedi

O Lazer Na Periferia - O Lazer Para Poucos x A Necessidade De Muitos

Com o advento da industrialização, o homem passou a buscar formas alternativas de se desligar, mesmo que por pouco tempo, da dependência de questões relativas ao trabalho. A urbanização da vida nas grandes cidades fez surgir o fenômeno do lazer, que está disponível de várias formas e para vários tipos de indivíduos ou grupos sociais. Atualmente, o lazer é muito explorado de modo a gerar lucros e diversão, sem qualquer preocupação com o desenvolvimento do ser humano na busca de valores importantes para sua própria sobrevivência e melhoria da qualidade de vida.Esta situação é provocada pela indústria cultural do lazer, porém essa indústria não considera a população dos bairros de baixa renda como público merecedor de lazer e favorecido pela falta de infra-estrutura não investe em serviços e equipamentos que disponibilizem qualquer diversão para essas comunidades.

A crise econômica crescente, a hierarquização das necessidades humanas e o desgaste do tecido urbano provocam impactos nos momentos de lazer da população. Vale lembrar que as ocasiões de não-trabalho e as instituições organizadas pelos trabalhadores foram muito importantes no forjar de uma autoconsciência social, ocupando no passado relevante papel para as diferentes camadas sociais. Alguns estudos demonstram como os momentos de lazer e as associações de trabalhadores, inclusive clubes, foram fundamentais para a auto constituições da classe operária.

Nesse processo de diferenciação social, as possibilidades de lazer estão entre as primeiras negligenciadas para grande parte da população. Basta observar a distribuição geográfica das oportunidades de acesso a bens culturais nas cidades. No caso de Salvador, uma cidade que tem o privilégio de possuir teatros, cinemas, centros comerciais, bibliotecas, porém estes equipamentos, se encontram exatamente, em sua grande maioria, nas zonas que congregam a população de maior poder aquisitivo, ficando os mais pobres, abandonados às áreas mais afastadas, além disso, há um claro processo de privatização, como o caso absurdo de cobrança de entradas até mesmo em exposições e feiras.

Perceptivelmente a noção de ocupação do espaço público sempre esteve mais

voltada para os interesses dos grupos sociais ligados às elites econômicas, o lazer para a indústria cultural do lazer, está diretamente ligado ao capital gerado por classes economicamente atraentes.
 
Por:
Iolanda Barros
Professora Orientadora Maria Raquel Mattedi

O Lazer Na Periferia - O Direito Ao Lazer

A industrialização brasileira se iniciou em fins do século XIX, apesar dos salários miseráveis, a redução da jornada de trabalho sempre foi o item mais saliente da luta dos trabalhadores.

A primeira greve no Brasil, data de 1901, e dentre outras reivindicações por parte dos grevistas a redução da jornada de trabalho de 11 horas era uma delas.Depois disso houve ainda muitas greves e manifestações, porém somente com a greve de 1° de maio de 1907 conseguiu-se, de fato, a redução da jornada de trabalho para 10 horas e algumas categorias de trabalhadores conseguiram até nove horas ao dia (CAMARGO, 1989).

No entanto foi durante o governo de Getulio Vargas que se conseguiu uma serie de avanços que garantiram aos trabalhadores o direito ao lazer, medidas que regulamentavam o direito a aposentadoria, a legalização da jornada de trabalho de oito horas / dia, o conjunto dessas leis e de outras medidas compôs a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que vigora até os dias atuais tendo sofrido algumas poucas alterações. (CAMARGO,1989).
 
Por:

Iolanda Barros
Professora Orientadora Maria Raquel Mattedi

O Lazer Na Periferia - O que é Lazer?

Segundo Dumozedier (1976) “Lazer é um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se, ou ainda, para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais.”


Dumozedier classifica as atividades de lazer em físicas, manuais, intelectuais, artísticas e sociais, porém não existe uma classificação perfeita para as atividades de lazer, pois a realidade é sempre mais complexa do que a capacidade dos cientistas.

Partindo desse conceito, a definição de lazer se torna bastante ampla, pois o que pode ser considerado lazer para algumas pessoas pode não ser para outras, o lazer é algo muito relativo e depende do ponto em que é pensado, segundo Camargo (1989) para alguns, lazer pode ser simplesmente assistir a novela ou ao programa preferido na televisão, ou pode ser ainda um bate papo com amigos, uma caminhada a pé ou de carro, sem rumo, da mesma forma lazer é assistir a uma palestra de um escritor ou sobre um tema que aprecia, porém é discordante afirmar que alguma ação humana é executada por livre escolha do indivíduo. Os determinismos culturais, sociais, políticos e econômicos pesam sobre todas as atividades do cotidiano, e inclusive sobre o lazer. Ir a um bar tomar um chope com os amigos pode ser sugestão de um comercial de tevê ou pressão dos próprios amigos, assistir a uma exposição badalada pode ser uma imposição, clara ou velada, de cultura do meio social em que se vive.

Partindo desse ponto de vista podemos concluir que em todas as escolhas que fazemos há uma influência da sociedade ou da mídia, o lazer tem apenas um grau de liberdade maior do que nas escolhas que se faz em outros setores.
 
Por:
Iolanda Barros
Professora Orientadora Maria Raquel Mattedi
Olá pessoal, vou postar alguns trechos de um livro, no qual achei muito interessante e tem relação direta com nosso blog:

O Lazer Na Periferia


Iolanda Barros

Professora Orientadora Maria Raquel Mattedi
 

Um livro que merece ler lido...

O Instituto Usina Social optou por uma publicação que privilegiasse o entendimento do lazer como elemento central da cultura vivida por milhões de trabalhadores, que a partir da dialética relaciona-se com todos os grandes problemas oriundos do trabalho, da família, da política, da violência e da juventude.

Este livro visa dar um panorama dos estudos sobre o lazer no Rio de Janeiro e a experiência do projeto Usina da Arte, desenvolvido pelo Instituto Usina Social em parceria com o Ministério da Justiça, com recursos do Programa Nacional de Segurança com Cidadania - PRONASCI.

Outra temática desenvolvida diz respeito à ocupação dos espaços públicos de lazer pela população. O que a juventude deseja? Quais os seus anseios? No âmbito da formação para o trabalho, quais fatores devem ser privilegiados? Como empreender a partir de uma formação cultural?

Essas perguntas foram objeto de estudo e reflexões durante a realização do projeto e no decorrer das oficinas de arte com conteúdo de formação profissional Os jovens apontaram para a necessidade de aprofundamento das questões em torno do empreendedorismo cultural e suas possibilidades de emancipação. A questão da maioridade econômica está associada à cidadania, a geração de renda e às suas necessidades culturais.

O Instituto Usina Social dedicou esse trabalho aos jovens do Jardim Catarina que são os protagonistas dessa história de construção coletiva. Ao mesmo tempo agradecemos aos intelectuais que gentilmente cederam seus artigos como forma de contribuir para uma reflexão do cotidiano do fazer profissional. Contribuição essa que tem servido aos propósitos da sistematização, reflexão e elaboração de novas teorias que concretizem um novo olhar para a cultura, o lazer e a ocupação dos espaços públicos com cidadania e inclusão social.
 
Link para baixar o livro:
 
Lazer e periferia: um olhar a partir das margens
 
 
Periferia... para além da criminalidade


Por: André Moysés Gaio e Márcia Miranda


Uma excessiva valorização da diferença e a nossa tendência a olhar o mundo de forma dicotômica nos impedem de enxergar no centro e na periferia as mesmas pequenas misérias humanas, os encontros e desencontros na busca pela realização da necessidade e da liberdade, a busca pelo reconhecimento e por padrões de interação cívicos.

O termo periferia foi criado na década de 1940, tendo como marco o Estado nacional e foi utilizado para compreender os diferentes papéis desempenhados na economia capitalista pelos países do centro e da periferia do capitalismo. Mais de 50 anos após a sua criação, foi introduzido outro termo, semiperiferia, para dar conta de situações peculiares em que certos países pareciam fugir de seu destino como periferia, mas ainda não conseguiam atingir os padrões de riqueza e segurança social dos seus cidadãos característicos dos países centrais.

A utilização do termo periferia para caracterizar situações que se aproximavam daquelas que inspiraram a criação do termo também já tem alguma história e a literatura sociológica e econômica cansou de repetir a característica dualista da economia brasileira. A mesma dicotomia se repetiu quando a análise recortava o espaço dos municípios. Sob diferentes denominações, centro e subúrbio, asfalto e morro, centro e periferia, entre outros, o espaço urbano parecia encontrar uma leitura coerente da existência de uma “cidade partida” entre cidadãos de diferentes padrões de renda e consumo que geravam diferenças irredutíveis entre os mesmos: subculturas , padrões de civilidade , comportamento político, organização espacial, relações com o poder público etc.

A periferia era pensada como o espaço da negatividade e qualquer positividade encontrada era vista como produto de uma romantização da miséria; todavia, especialmente nos últimos vinte anos, uma visão que privilegia a esfera da produção cultural, tem insistido no avanço da periferia sobre o centro, na incorporação, pelo centro, da produção cultural produzida na periferia. As dimensões desse avanço sobre o centro ainda não podem ser dimensionadas.

Supondo que existe um mesmo padrão para definirmos periferia, o que, de fato, não existe, o discurso sobre a produção de uma nova identidade através do lazer e da cultura, que inclui música e esporte, fundamentalmente, parece o único que encontra positividade na periferia. A cultura da periferia permitiria construir padrões de interação cívicos, além de criar recursos de poder para seus moradores.

A pesquisa, observação e estudos nas comunidades periféricas permitiriam uma percepção de que, para além da criminalidade, encontra-se um processo de expressão e interação social que faz de uma esfera heterogênea, a possibilidade de reconhecimento por categorias universais: o esporte e cultura popular vividos enquanto atividades de lazer.

O aspecto lazer a que esta discussão se refere, influenciando a realidade social do jovem e sendo por ela influenciado, é um espaço onde a experiência humana pode e é revivida. O tempo livre das comunidades periféricas brasileiras que investem no lazer seria preenchido por atividades como a capoeira , samba, futebol , Afoxé , rádio comunitária, e Hip-Hop . Nas ruas, nas praças, nos quintais, quadras, salas ou galpões dos bairros de periferia, esta população construiria uma cultura com mais autonomia, onde nos raps e nas rádios comunitárias ousam dizer o que pensam, envolvendo outros interlocutores que se identificam com o conteúdo das falas. A arte e o esporte dariam visibilidade ao indivíduo e isto representa para ele sair do anonimato e ocupar na sociedade um lugar e reconhecimento legítimos.

A produção de descontração, divertimento, prazer, busca por adrenalina típica destas atividades, não se desvincularia do caráter social nelas também muito presente. Os ídolos do esporte, assim como capoeiristas, sambistas, e integrantes da cultura Hip-Hop em suas comunidades gozam de status social e um sucesso em seu meio, consideráveis. Estes artistas esperam a cada exibição, ou contato com seu público, elogios; e assim poderiam medir a “solidez de sua situação”.

Nestas atividades, se reproduzem aspectos do cotidiano com as representações sociais e limites elaborados pelas regras de cada atividade. Não haveria discriminação social nem racial, a exemplo os praticantes de capoeira: querem “jogar capoeira” com quem é hábil e tem domínio das técnicas e movimentos e não com quem consome bens de alto valor financeiro ou pertence a um grupo racial privilegiado. No rap, considerado “a música da verdade” se discutiriam as formas de autoritarismo, de racismo, de repressão, de violência, de vida e de liberdade – conforme a “verdade” do local onde sua prática acontece. Todas as formas de lazer aqui descritas seriam atividades que expressariam o coletivo e que, no entanto, não impediriam o aparecimento de investimentos individuais que marcariam o indivíduo por uma identificação positiva perante a sociedade. O indivíduo, através de tais atividades, conquistaria reconhecimento e valorização social independente da raça, classe social ou crença religiosa e se submete a circunstâncias que seriam universais – válidas para todos os indivíduos participantes daquele meio, que fariam suas escolhas pela participação de forma voluntária. As atividades de lazer praticadas pela periferia em seu tempo livre se confundiriam com a própria comunidade exprimindo-se por meio de relações, valores, ideologias, regras, espontaneidade, conflitos...

Torna-se o lazer, dentro desta perspectiva, um investimento não só muito presente, como fundamental nos bairros de classe popular. As atividades recreativas, segundo tal perspectiva, são entendidas como vivência do tempo e não do trabalho. A partir de iniciativa muitas vezes dos próprios moradores, de seus investimentos e credibilidade na reação social através do movimento artístico e cultural, aconteceria nos bairros periféricos a socialização e produção no tempo livre.

O que tal perspectiva enfatiza , no entanto, não é o fato isolado de se ocupar, mas proporcionar, pela via do lazer, uma socialização harmoniosa e não criminosa, representada por um novo modelo de aprendizagem; e, o que tornaria isto possível, seria a capacidade de se ocupar associando-se aos grupos e neles formando vínculos. As atividades de lazer aqui citadas são atividades coletivas que, contando com o nexo jovem – atividade - grupo, é capaz de uma ação ampliada que extrapola o “ocupar somente”. O esporte enquanto tal, proporcionaria uma forte experiência de legitimidade e acatamento às leis. O aprendizado destas atividades seria escolhido pelos iniciantes que absorvem a idéia de respeito às normas, considerando, em outra expressão social, a inclinação de ter êxito sem o respeito aos limites ou regras estabelecidas, como atitudes contrárias ao caráter esportivo.

O que se espera, segundo tal visão, da atuação pela via do lazer, é uma extensão desta construção pelo jovem para a coletividade no campo social, tanto no que tange a consolidação dos vínculos e capacidade de estabelecê-los, quanto nos aspectos socializantes que as atividades envolvem. Há de se considerar, pois, que para se compreender a escolha e vinculação por uma determinada atividade de lazer há de se ter referência à totalidade na qual está inserida. Isto justificaria as diferenças no investimento de atividades entre as várias periferias, que acolhem atividades que se identificam com seu cotidiano e universo cultural.

A periferia exprimiria em seu cotidiano a possibilidade de jovens expostos à situação de pobreza, risco social e vulnerabilidade, contextualizar sua reação social, desenvolvendo-se na direção de referências positivas através de atividades de lazer e esporte praticadas no Brasil. O trabalho coletivo que envolve estas atividades compreenderia uma rica fonte de desenvolvimento, agregando variedades de experiências que contribuem para o desenvolvimento social do jovem.

Os laços estabelecidos pelo jovem não se restringiriam apenas à atividade, mas se estenderiam ao grupo participante, reproduzindo e reconstruindo nele relações familiares. É a partir deste processo que seria possível levar a qualidade das relações estabelecidas no lazer para a comunidade e, seqüencialmente para a sociedade; bem como entender a periferia a partir de novas formas de participação social: atléticas... artísticas... e para além da criminalidade.


Conclusão

Em quantas periferias esta perspectiva, ou seja, do lazer e da cultura como recursos para prover identidade e reconhecimento, padrões de interação e participação social é verossímil? Não sabemos ainda, mas temos certeza de que em muitos casos ela se apóia em circunstâncias reais, embora não saibamos ainda sua extensão e profundidade,além de sua verdadeira capacidade de se projetar no centro das cidades. Também não sabemos medir certos problemas inerentes a essa nova configuração cultural da periferia. Por exemplo: em que medida aqueles que não são jovens são excluídos, se apenas o lazer e a produção cultural permitem à juventude da periferia reinventar suas trajetórias, em que medida as novas manifestações culturais e os efeitos que produzem se constituem novidades etc.



Moysés Gaio, Professor da Graduação e Pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e Márcia Miranda, Psicóloga e mestranda em Ciências Sociais pela UFJF.
Mapa revela exclusão do lazer na periferia de SP


FREDERICO VASCONCELOS

da Folha de S.Paulo

Mapeamento inédito da cidade de São Paulo, encomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para avaliar a vulnerabilidade dos jovens às drogas, mostra que os serviços públicos de lazer e cultura, úteis para reduzir o ócio e inibir o vício, não beneficiam a população mais carente: os adolescentes da periferia.

Os centros esportivos e de treinamento, as bibliotecas, os parques e os teatros estão concentrados nas regiões de alta renda, bem distante dos jovens que vivem nas áreas extremas da cidade e que estão mais expostos ao crime.

O levantamento da OMS constata que o vício está disseminado em toda a cidade. Mas o maior consumo de drogas ocorre nas classes média e alta.
As motivações e as consequências do uso de droga, contudo, são diferentes.

Para os jovens das áreas mais ricas, segundo o estudo da OMS, o consumo pode representar uma experiência. Os jovens pobres da periferia têm outra expectativa de vida e correm maior risco de se tornar dependentes ou vinculados ao tráfico.

"Não existe uma política pública direcionada à prevenção. Quando surge alguma iniciativa, é porque o problema já é crônico", diz a arquiteta Sueli Ramos Schiffer, professora titular do Departamento de Tecnologia da Arquitetura da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP.

É perverso o descolamento: as pessoas que necessitam desses serviços estão onde eles não são disponíveis, observa a psicóloga Nancy Cardia, coordenadora de pesquisas do Núcleo de Estudos da Violência da USP.

A pedido da OMS, Nancy e Sueli analisaram séries de dados socioeconômicos, cruzaram pesquisas sobre a violência e o uso de drogas, além de indicadores de qualidade de vida urbana, como moradia, saúde, educação e lazer.

Depois de gastar muito dinheiro difundindo campanhas no mundo inteiro para combater as drogas -sem obter resultados efetivos- a OMS encomendou pesquisas semelhantes em vários países. A organização quer entender o que acontece nas grandes cidades, onde os jovens têm sérios problemas com drogas.

A idéia central é verificar a relação entre as condições sociais e econômicas da população de São Paulo e o uso de drogas, o consumo de bebidas alcoólicas, o tráfico etc.; avaliar o impacto da urbanização no uso de drogas por adolescentes e tentar identificar como os fatores de risco e recuperação estão distribuídos na cidade.

"Em São Paulo, a exclusão não se dá apenas no sentido econômico-social", diz Nancy. Ela vê exclusão até no atendimento por ONGs (organizações não-governamentais) e entidades dedicadas à filantropia, cuja ação não alcançaria as áreas de maior risco.

Entre os locais menos atendidos, Sueli Schiffer cita Cidade Tiradentes, Guaianazes, Iguatemi e Itaim Paulista, todos na zona leste, e Jardim Ângela, na zona sul.

"É possível fazer alguma coisa preventiva, como a formação de núcleos para capacitar os jovens da periferia", diz Sueli. "Construir um centro esportivo ligado a um centro de treinamento não é algo tão dispendioso", diz.

Os campos de futebol são as opções de lazer que aparecem com distribuição mais ampla nos mapas fornecidos à OMS. Mas são precários e insuficientes para atender à demanda.

"A maior parte das crianças e jovens vive nas áreas extremas, mas a maioria dos equipamentos -principalmente os que combinam centros de treinamento e múltiplas opções de esportes, e mesmo piscinas públicas- está concentrada nas áreas centrais", afirma Nancy.

Os mapas indicam que os equipamentos esportivos não estão localizados onde a maioria dos usuários potenciais se encontram.

O rastreamento confirma que as associações de moradores estão presentes em todos os locais. Mas o estudo enviado à OMS afirma que isso não se traduz em garantia de menor desigualdade na distribuição de serviços públicos.
"A cidade cresceu pela ação da população. Os sinais da presença da prefeitura e do Estado na ocasião da abertura dessas novas áreas são pequenos. Não é preciso reafirmar que uma cidade assim não pode dar certo", diz a psicóloga da USP.
Sem ter onde se divertir, morador da periferia recorre a locais de risco


Publicada em 28/01/2007 às 11h18m

Rodrigo Ferreira, Diário de S. Paulo



SÃO PAULO - "Ele morreu porque queria se divertir". Assim a doméstica Neide de Oliveira, de 48 anos, resumiu a perda do filho caçula, o estudante Vítor Oliveira de Souza, de 12. Ele foi uma das três pessoas mortas em um incidente ocorrido na madrugada do último dia 20, na saída da boate Muvucão, que funcionava de forma irregular no Parque Santo Antônio, zona sul de São Paulo. Como naquele caso, diversos outros lugares são freqüentados pelo paulistano em busca de lazer, mesmo que isso signifique correr riscos. Entre os exemplos estão a Represa Guarapiranga , um parque com brinquedos quebrados dentro de um piscinão e até uma rua transformada em campo de futebol.
Neide não conhecia o local onde seu filho morreu — um sobrado sem saídas de emergência ou equipamentos de segurança — e deixou Vítor sair porque aquela era uma das únicas opções de lazer da região.

- Eu nunca deixava ele sair de casa porque achava perigoso, mas naquele dia ele pediu muito para ir - lembra a doméstica.

Por volta das 3h30 do dia 20, a polícia foi chamada ao local para averiguar denúncias de algazarra, tráfico de drogas e racha de motociclistas. A chegada abrupta da Polícia Militar causou correria dentro da boate. Além de Vítor, a estudante Suellen dos Santos Gomes, de 16 anos, e Daniele dos Santos, de 29, morreram pisoteadas.

Segundo o prefeito Gilberto Kassab (PFL), a prefeitura tem combatido o problema da falta de lazer na cidade.

- A Prefeitura tem o programa Praças Vivas, um programa intenso de lazer para as crianças, para as comunidades, em especial da periferia, regiões onde não tem muitos equipamentos urbanos - disse Kassab.

As 31 subprefeituras da capital, em conjunto com o Departamento de Controle de Uso de Imóveis (Contru), fiscalizam os locais de lazer irregulares.

- As casas que estão em situação ilegal são fechadas e punidas exemplarmente - afirmou o prefeito.

A subprefeitura do M’Boi Mirim, responsável pela área do Muvucão, fechou, do segundo semestre de 2005 até este mês, 20 estabelecimentos. Porém, até a tragédia, não havia recebido nenhuma queixa contra a boate. A subprefeitura estima que na região exista cerca de 1.700 bares.

Na área do Parque Santo Antônio, um dos únicos pontos de lazer com segurança são duas quadras de esportes e um campo de futebol da ONG Instituto Esporte e Educação (IEE), montada com a ajuda da ex-atleta Ana Moser.

- A região tem muitos jovens e adolescentes que não têm onde se divertir. Se não fosse o projeto, a comunidade ficaria sem lazer - acredita um dos professores voluntários do projeto, Cláudio Freitas Nascimento, de 37 anos.

Para ex-secretário nacional da Segurança Pública, José Vicente da Silva Filho, a falta de lazer na periferia causa aumento da criminalidade na cidade.

- Uma ação simples realizada no subúrbio de Nova York, no final dos anos 80, resultou numa queda drástica na violência. O projeto consistia em transformar terrenos baldios em quadras de basquete e outros esportes - contou.