sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Sem ter onde se divertir, morador da periferia recorre a locais de risco


Publicada em 28/01/2007 às 11h18m

Rodrigo Ferreira, Diário de S. Paulo



SÃO PAULO - "Ele morreu porque queria se divertir". Assim a doméstica Neide de Oliveira, de 48 anos, resumiu a perda do filho caçula, o estudante Vítor Oliveira de Souza, de 12. Ele foi uma das três pessoas mortas em um incidente ocorrido na madrugada do último dia 20, na saída da boate Muvucão, que funcionava de forma irregular no Parque Santo Antônio, zona sul de São Paulo. Como naquele caso, diversos outros lugares são freqüentados pelo paulistano em busca de lazer, mesmo que isso signifique correr riscos. Entre os exemplos estão a Represa Guarapiranga , um parque com brinquedos quebrados dentro de um piscinão e até uma rua transformada em campo de futebol.
Neide não conhecia o local onde seu filho morreu — um sobrado sem saídas de emergência ou equipamentos de segurança — e deixou Vítor sair porque aquela era uma das únicas opções de lazer da região.

- Eu nunca deixava ele sair de casa porque achava perigoso, mas naquele dia ele pediu muito para ir - lembra a doméstica.

Por volta das 3h30 do dia 20, a polícia foi chamada ao local para averiguar denúncias de algazarra, tráfico de drogas e racha de motociclistas. A chegada abrupta da Polícia Militar causou correria dentro da boate. Além de Vítor, a estudante Suellen dos Santos Gomes, de 16 anos, e Daniele dos Santos, de 29, morreram pisoteadas.

Segundo o prefeito Gilberto Kassab (PFL), a prefeitura tem combatido o problema da falta de lazer na cidade.

- A Prefeitura tem o programa Praças Vivas, um programa intenso de lazer para as crianças, para as comunidades, em especial da periferia, regiões onde não tem muitos equipamentos urbanos - disse Kassab.

As 31 subprefeituras da capital, em conjunto com o Departamento de Controle de Uso de Imóveis (Contru), fiscalizam os locais de lazer irregulares.

- As casas que estão em situação ilegal são fechadas e punidas exemplarmente - afirmou o prefeito.

A subprefeitura do M’Boi Mirim, responsável pela área do Muvucão, fechou, do segundo semestre de 2005 até este mês, 20 estabelecimentos. Porém, até a tragédia, não havia recebido nenhuma queixa contra a boate. A subprefeitura estima que na região exista cerca de 1.700 bares.

Na área do Parque Santo Antônio, um dos únicos pontos de lazer com segurança são duas quadras de esportes e um campo de futebol da ONG Instituto Esporte e Educação (IEE), montada com a ajuda da ex-atleta Ana Moser.

- A região tem muitos jovens e adolescentes que não têm onde se divertir. Se não fosse o projeto, a comunidade ficaria sem lazer - acredita um dos professores voluntários do projeto, Cláudio Freitas Nascimento, de 37 anos.

Para ex-secretário nacional da Segurança Pública, José Vicente da Silva Filho, a falta de lazer na periferia causa aumento da criminalidade na cidade.

- Uma ação simples realizada no subúrbio de Nova York, no final dos anos 80, resultou numa queda drástica na violência. O projeto consistia em transformar terrenos baldios em quadras de basquete e outros esportes - contou.

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